terça-feira, 22 de janeiro de 2013

Perfeito Medíocre

Tente ser o melhor. Tente reduzir o consumo de porcarias. Tente baixar o seu colesterol. Coma menos açúcar. Use seu melhor sorriso. Use seu tempo disponível. Todo ele, de preferência. Escolha uma carreira. Tente ser o melhor nela. Saiba, portanto, que seu esforço pode não ser o suficiente. Chegue sempre no horário, assim você estará mais propenso às oportunidades. Oportunidades se traduzem em dinheiro (este que parece ser o combustível por estas bandas). Tente ser realizado profissionalmente. Para isso esqueça o cara ao lado que não faz 10% do seu trabalho e ganha dez vezes mais do que você (esqueça também os salários dos jogadores de futebol). Aprenda outra língua. Aprenda quantas línguas puder. Aprenda a segurar a sua língua. Saiba ficar invisível. Fique assim sempre que sentir vontade de gritar com alguém. Ou até consigo mesmo. Aprenda a segurar as emoções. Principalmente em público. Marketing é tudo. Tente vender-se da melhor maneira possível. Apare suas arestas. Exceções não são bem-vindas. Embora gostem de valorizar os extraordinários, somente na mediocridade se encontra a paz. Seja mediano. Seja medíocre. Guarde seus melhores pensamentos e idéias para você mesmo. Execute-os nos seus sonhos. Aproveite a vida. Aproveite a juventude. Conheça países distantes. Sonhe com Nova York. Roube e traga consigo as emoções falseadas dos musicais da Broadway, enquanto pensa em aviões, prédios e como uma idéia pode derrubá-los. Sonhe com Londres. Imagine uma existência mais feliz por estar perante o Big Ben e uma realeza postiça adorada por súditos que acompanham suas vidas pelas páginas dos tablóides. Sonhe com Paris. Lembre dos ideais da Revolução enquanto passeia na Rive Gauche, prestes a gastar 3 salários da população ordinária em uma calça que invariavelmente você não usará. “Liberdade, Igualidade, Fraternidade”. Esqueça Níger. Esqueça São Paulo. Esqueça Bogotá. Esqueça o Hemisfério Sul. Por que ele ficaria ao Sul, afinal? Tenha um credo. Acredite piamente em algo maior (deve haver algo maior). Facilita muito as coisas. Aprisione a sua criança interior. Mesmo quando esta insistir em escapar por uma gargalhada ou em uma manhã de sábado quando o brilho do sol tentar mascarar que as coisas não são tão ruins. Por fim, procure um amor. Achando, bom pra você. Não achando, bom pra você. Mesmo que ache, ainda assim seu fim poderá ser sozinho (e não há do que se envergonhar). Ouça boas músicas. Veja bons filmes. Até mesmo aqueles com o Jim Carrey, se conseguir considerá-los bons. Atenha-se aos prazos. Tudo neste mundo tem uma data de validade. Contas, trabalhos, amizades, amores e até mesmo você. E, quando seu prazo expirar, sua vida passará diante dos seus olhos. Seus erros, acertos, decisões, vacilos, balanços, tudo será exposto na eternidade de um segundo, como você sempre ouviu dizer que era, mas preferiu não acreditar por achar muito “clichê”. Quando isso acontecer, já não importará tudo que você fez na vida. Se foi um médico ou um monstro. Se foi branco ou negro. Se sua carteira vivia cheia ou se você vivia no vermelho. Todas as pessoas nesse breve longo instante se resumem a ínfimas criaturas vivendo em um universo em constante expansão. Petrificadas diante do desconhecido. Indefesas diante do juízo de suas próprias consciências. Atônitas com a ausência de resposta para uma pergunta desconcertante: “Você realmente viveu?”. Aos que viveram, a eternidade. Estarão presos na memória de quem ainda está vivo, renascidos na simples menção de seu nome, presentes para sempre. Aos que não viveram, restará a ilogicidade de morrer sem mesmo viver. E desaparecerão no nada.

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