segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

Grandes Álbuns Negligenciados da História da Música: Ryan Adams - Rock N Roll



Talvez tenha sido a incrível estréia solo, Heartbreaker, até hoje o grande sucesso comercial do cantor e compositor norte americano, Ryan Adams, ou talvez tenha sido a prolífica carreira que gerou 13 álbums em 11 anos, ou talvez até mesmo sua atitude esnobe na época de seu lançamento, mas o quarto álbum de estúdio de Adams, Rock n Roll, de 2003, nunca obteve o reconhecimento necessário que o álbum merece. Ryan Adams, anteriormente integrante da banda de alternative country Whiskeytown, já obtinha certo sucesso e reconhecimento da crítica e do público, após o lançamento de 2 álbuns geniais em carreira solo, o já citado Heartbreaker (2000) e Gold (2001), basicamente com sonoridade folk e alternative rock, até que numa ruptura de gênero decide apostar em riffs e guitarras pesadas e lança Rock n Roll. O álbum tem tudo que um disco deste gênero deve apresentar: rebeldia, um sentimento de não adequação, melancolia e até mesmo a já batida referência ao uso de entorpecentes, tudo embalado em letras fáceis, guitarras rápidas e vocais que beiram o grito em alguns momentos. Apropriando-se destes elementos, Adams procurou usá-los em referência a outras bandas do gênero como The Strokes, na introdução “This is It”, resposta à pergunta do álbum de estréia do grupo nova-iorquino, “Is This It?”, The Smiths, na faixa “Anybody Wanna Take Me Home”, e até mesmo Joy Division, em “So Alive” e “She’s Lost Total Control”, que para alguns foi entendido como uma cópia do trabalho das bandas citadas, pode ser também visto como uma homenagem aos grandes nomes do gênero. As letras inteligentes e a sonoridade pesada de Rock N Roll, foram as pedras fundamentais na construção do estilo de Ryan Adams, aprimorado mais tardiamente em “Easy Tiger” e “Ashes and Fire”. O álbum também conta com a participação de Billy Joe Armstrong, vocalista do Green Day, e Melissa Auf der Maur, nos backing vocals. 

Pra entender, ouça: “So Alive”, “Anybody Wanna Take Me Home”, “Burning Photographs” e “Wish You Were Here”.

quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

Playlist: Summertime Sadness


Estava olhando pelos 374 blogs que eu tive no passado espalhados por toda a internet, buscando por textos antigos meus que gosto para publicar aqui, e percebi que nas inúmeras playlists que eu costumava publicar a quantidade de artistas que ouço ainda hoje. O ano era 2007 e eu ouvia Keane, John Mayer, The Killers, Ryan Adams, Norah Jones, Joss Stone.. Os anos passaram, as postagens prosseguiam, chegamos em 2013 e eu continuo ouvindo-os. Com o tempo apareceram uma ou outra novidade, bandas e artistas que nem lembro que existem e se perderam em arquivos esquecidos em um canto do HD ou do iPod. Por isso para esta primeira playlist do I.AM.U.R. resolvi selecionar, além da temática do verão, somente artistas novos, com a maioria divulgando seu primeiro trabalho ou EP, mas que mostram potencial para se tornarem constantes em outras listas no futuro. Se isso realmente irá acontecer, só o tempo (e outros 374 blogs a mais) poderão responder...

1. The Chevin - Songs for the Sun: Banda inglesa da cidade de Leeds, lançou no início de 2012 o EP "Champion", com o qual ganhou uma certa notoriedade por conta do single homônimo, e no final do ano passado lançou o álbum de estréia "Borderland". Vale a pena conhecer o trabalho da banda, bastante diversificado nesta estréia, com destaque para "Drive", segundo single extraído do álbum.

2. Pacific Air - Rpses: Dupla de irmãos que fazem um som bastante peculiar, anteriormente conhecidos pelo nome de KOKO, trazem uma mistura de rock alternativo, surf music com dream rock, algo parecido com o som do Spiritualized. Lançaram no final do ano o EP "Long Live KOKO", e tem seu disco de estréia aguardado para 2013.

3. The Neighbourhood - A Little Death: Banda californiana de rock alternativo que mistura sonoridade de hip hop com o clima noir dos filmes de detetive dos anos 50, como pode ser visto em seus clipes, em especial, "Female Robbery", que segue a "escola Lana Del Rey" de colagens videoclípticas. As semelhanças com Lana Del Rey não param por aí, parte do seu trabalho vem sendo produzido por Emile Haynie, uma das cabeças por trás do "Born to Die". Devem lançar seu álbum de estréia também em 2013.

4.  Sky Ferreira - Everything is Embarrassing: A cantora descendente de portugueses e brasileiros já é bem conhecida e queridinha da blogosfera por pelo menos uns 3 anos, porém só tem lançados EPs neste tempo. Fluindo pelos mais diferentes gêneros musicais, sem uma identidade musical definida, no último EP, Ghost, Sky Ferreira parece ter acertado a mão com o som pop dos anos 80. A espera pelo seu álbum de estréia já dura mais de um ano, será que 2013 sai?

5. HAIM - Forever: Rock dos anos 80 e 90 tocado por 3 irmãs da California, também são aguardadas em 2013 com um álbum de estréia após a comoção causada pelo EP "Forever", que mesmo sendo lançado no final de 2012, figurou em muita lista dos melhores lançamentos do ano de sites importantes.

6. The Lumineers - Ho Hey: Revelação do country/folk do ano de 2012, junto com o Alabama Shakes, lançaram seu álbum de estréia homônimo em 2012 e com o single "Ho Hey", seu refrão grudento e sem invencionices, conseguiram romper a barreira do gênero e aparecer bem nos rankings da Billboard.

7. Lana Del Rey - Summertime Sadness (Radio Mix): Grande revelação e controvérsia do ano, Lana Del Rey apareceu no final de 2011 com seu smash-hit 'Video Games', para finalmente lançar seu álbum de estréia "Born to Die" no início de 2012, e relançá-lo, precocemente diga-se de passagem, com a Paradise Edtion, em novembro de 2012. Mesmo com especulações sobre estratégia de marketing pesado, inúmeros vazamentos de discos gravados sob outro nome, Lana continua sua carreira interessada em fazer arte, e consegue, como podemos ver nos clipes de "Blue Jeans", "Ride" ou sua interpretação inspirada do clássico "Blue Velvet" ou nas suas composições como "Born to Die" e "Radio".



terça-feira, 22 de janeiro de 2013

Girls

Você sabia que enquanto nós, garotos, estamos nos divertindo jogando bola, brincando de gude e colecionando figurinhas dos times do Brasileirão, as meninas frequentam uma escola secreta, que lhes ensinam a destruir os corações dos garotos em 30 lições? Instruídas por uma viúva alemã daltônica elas aprendem, desde pequenas, todos os truques de como governar um homem com um simples sorriso, uma passada de mão nos cabelos e um andar todo especial, à la Gisele Bündchen? Aprendem a desfilar lentamente, como se o mundo rodasse em slow-motion para vê-las passar, como uma zebra distraída no meio da savana africana, pronta para ser abatida por um leão faminto, ela passa calmamente. Mas, nesse ponto você já não quer abatê-la, você não é um leão, você é um homem e quer salvá-la. Quando crianças, suas bonecas sussurram-lhe nos ouvidos as vantagens de ser linda, loira de olhos azuis e ter a cintura da grossura de um polegar. Como você acha que a boneca Barbie conseguiu aquele carrão conversível, um flat com piscina e um iate? Com certeza não foi sendo boneca aeromoça, surfista, professora... Elas aprendem, desde cedo, que estamos aqui para servi-las e não há quem consiga dissuadi-las disto. Na escolinha, ela tem apenas 5 anos, usa maria-chiquinha e ainda lhe faltam os dentes da frente, mas basta apenas um sorriso e um brilho diferente nos olhos e pronto! Você, apaixonado, está disposto a passar todo o seu recreio fazendo as coisas mais estúpidas para lhe chamar a atenção e isso inclui puxar seus cabelos, botar-lhe apelidos descabidos e fingir que não está nem aí pra ela... Ledo engano... Aos 13 anos, ainda estamos usando aparelho, com a cara entupida de espinhas e medindo 1,42m, enquanto elas experimentam seus primeiros sutiãs e explodem em beleza, na vivificação da metáfora da lagarta transformando-se em borboleta. Aos 18, ela não é mais uma aluna, após anos de treinamento prático de enrolação de babacas, graduou-se com mérito em arte da sedução e pretende seguir carreira como destruidora de corações. Talento nato. Mais tarde, a despeito de toda educação, ela decide baixar a guarda e se apaixona. Mas, claro que não é por você. O cara é um cafajeste e até você, que não é lá boa peça, reconhece isso, mas ela não. Ela enxerga nele o maldito príncipe encantado que um desenho infantil lhe prometera quando criança (na base da mensagem subliminar) e em você, ela só enxerga um... blargh! Um amigo! Preferem acreditar na ilusão de um príncipe encantando a enxergar o cara que sabe de suas preocupações e anseios, sabe lhe fazer rir e estará lá quando ela precisar chorar. Essa é a lição mais terrível que a instrutora alemã lhes passa: Não namorem seus amigos! Então, por uma conjunção dos astros você consegue achar a mulher ideal e convencê-la de que casar com você não é lá muito mau negócio. Tudo bem que você usa um argumento barato para disfarçar, mas a verdade é que você não consegue mais respirar sem ela ao seu lado e por isso você aceita tudo que ela lhe propõe. Ela escolhe a igreja, o apartamento, o nome dos filhos e que você não deve usar mais essa camisa do Brasil da Copa de 90. E tudo segue muito bem, com os pequenos jogos de poder e controle que os casais jogam por jogar, pois sabemos que o controle é todo delas, até o dia que você descobre uma outra paixão. De novo, você está caidinho por uma garotinha. Só que ela tem 5 anos, de maria-chiquinha e sem os dentes da frente. Ela é sua filha e você não está disposto só a perder o recreio, como também toda sua vida, na tentativa de agradá-la e protegê-la de um mundo cruel, terrível e cheio de garotos não muito diferentes de você quando era jovem. É neste momento que você percebe que o mundo é delas e que não adianta tentar entendê-las, assim como elas perdem o seu tempo tentando decifrar nossos pensamentos confusos e interrompidos (por obra delas). Nunca saberemos o quê se passa em suas mentes e é aí onde reside a beleza e o mistério da mulher. O máximo que podemos fazer é nos maravilhar com essa bela confusão que adoramos nos meter. E não conseguimos viver sem. Mesmo que elas ainda relutem em namorar com os amigos. E acreditem nos cafajestes.

Perfeito Medíocre

Tente ser o melhor. Tente reduzir o consumo de porcarias. Tente baixar o seu colesterol. Coma menos açúcar. Use seu melhor sorriso. Use seu tempo disponível. Todo ele, de preferência. Escolha uma carreira. Tente ser o melhor nela. Saiba, portanto, que seu esforço pode não ser o suficiente. Chegue sempre no horário, assim você estará mais propenso às oportunidades. Oportunidades se traduzem em dinheiro (este que parece ser o combustível por estas bandas). Tente ser realizado profissionalmente. Para isso esqueça o cara ao lado que não faz 10% do seu trabalho e ganha dez vezes mais do que você (esqueça também os salários dos jogadores de futebol). Aprenda outra língua. Aprenda quantas línguas puder. Aprenda a segurar a sua língua. Saiba ficar invisível. Fique assim sempre que sentir vontade de gritar com alguém. Ou até consigo mesmo. Aprenda a segurar as emoções. Principalmente em público. Marketing é tudo. Tente vender-se da melhor maneira possível. Apare suas arestas. Exceções não são bem-vindas. Embora gostem de valorizar os extraordinários, somente na mediocridade se encontra a paz. Seja mediano. Seja medíocre. Guarde seus melhores pensamentos e idéias para você mesmo. Execute-os nos seus sonhos. Aproveite a vida. Aproveite a juventude. Conheça países distantes. Sonhe com Nova York. Roube e traga consigo as emoções falseadas dos musicais da Broadway, enquanto pensa em aviões, prédios e como uma idéia pode derrubá-los. Sonhe com Londres. Imagine uma existência mais feliz por estar perante o Big Ben e uma realeza postiça adorada por súditos que acompanham suas vidas pelas páginas dos tablóides. Sonhe com Paris. Lembre dos ideais da Revolução enquanto passeia na Rive Gauche, prestes a gastar 3 salários da população ordinária em uma calça que invariavelmente você não usará. “Liberdade, Igualidade, Fraternidade”. Esqueça Níger. Esqueça São Paulo. Esqueça Bogotá. Esqueça o Hemisfério Sul. Por que ele ficaria ao Sul, afinal? Tenha um credo. Acredite piamente em algo maior (deve haver algo maior). Facilita muito as coisas. Aprisione a sua criança interior. Mesmo quando esta insistir em escapar por uma gargalhada ou em uma manhã de sábado quando o brilho do sol tentar mascarar que as coisas não são tão ruins. Por fim, procure um amor. Achando, bom pra você. Não achando, bom pra você. Mesmo que ache, ainda assim seu fim poderá ser sozinho (e não há do que se envergonhar). Ouça boas músicas. Veja bons filmes. Até mesmo aqueles com o Jim Carrey, se conseguir considerá-los bons. Atenha-se aos prazos. Tudo neste mundo tem uma data de validade. Contas, trabalhos, amizades, amores e até mesmo você. E, quando seu prazo expirar, sua vida passará diante dos seus olhos. Seus erros, acertos, decisões, vacilos, balanços, tudo será exposto na eternidade de um segundo, como você sempre ouviu dizer que era, mas preferiu não acreditar por achar muito “clichê”. Quando isso acontecer, já não importará tudo que você fez na vida. Se foi um médico ou um monstro. Se foi branco ou negro. Se sua carteira vivia cheia ou se você vivia no vermelho. Todas as pessoas nesse breve longo instante se resumem a ínfimas criaturas vivendo em um universo em constante expansão. Petrificadas diante do desconhecido. Indefesas diante do juízo de suas próprias consciências. Atônitas com a ausência de resposta para uma pergunta desconcertante: “Você realmente viveu?”. Aos que viveram, a eternidade. Estarão presos na memória de quem ainda está vivo, renascidos na simples menção de seu nome, presentes para sempre. Aos que não viveram, restará a ilogicidade de morrer sem mesmo viver. E desaparecerão no nada.

segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

La Jeunesse

Espero pelo dia em que recordarei com nostalgia de dias como esses. Dias em que sou jovem, belo e saudável. Belo e saudável?! Ok, vamos partir do pressuposto que isso é a verdade, pois quando se é jovem, apesar dos crescentes índices de morbi-mortalidade e feiúra, se é belo e saudável. Então, suspirarei com pesar, frente ao maçante presente, sobre passeios na praia, sexo casual, pequenos atos de terrorismo social encarados como se o mundo girasse ao meu entorno e sob à minha vontade. A vida então, na minha juventude, será como um eterno verão, sem problemas, pernas para fora, pele eternamente bronzeada e sorrisos de propagandas de creme dental. Mas será que foi isso mesmo? Pois tudo que vivo são dias iguais, repetidos, saltados por um ou dois acontecimentos que daqui à um mês eu não vou lembrar. A faculdade me toma 89% da minha vida e, não, eu não estou reclamando disto. Não disto.

Eu passo os dias esperando chegar o final de semana para na sexta feira eu sair e não gostar, e no sábado, eu arrepender-me de ter saído na sexta e acabar sozinho, zapeando por programas de humor sem graça e sitcoms sobre uma outra juventude. Um pouco mais velha, é verdade, mas também frustada com seus empregos e com medo de envelhecer sozinho. Pode soltar a risada de auditório. A juventude é uma piada sem-graça. Ninguém está rindo.

Eu afundo na tecnologia, música indie-rock e comida delivery e é só mais uma fuga. Não sou muito diferente de quem acha que por acompanhar a vida dos ídolos pop norte-americanos, tem a vida 7% mais interessante do que a população normal. Os livros não possuem as respostas, cansei de buscá-las. As telas de cinema, na melhor das hipóteses, oferecem um escape do mundo real por 2 horas, isso se não ofertarem um outro tipo de ilusão, com pessoas infinitamente mais realizadas profissional e pessoalmente do quê eu jamais serei. Todos os problemas se resolvem no tempo da projeção. Deve ser por isso que se chama cinema.

Tenho que comprar todos os lançamentos da Apple, mesmo sabendo, no momento da compra, que aquele objeto está fadado a tornar-se obsoleto em 8 meses. Como Adão e Eva, ainda não sabemos resistir à uma maçã, hein? Na vida amorosa, o máximo que consigo são 2 encontros com garotas que riem sem razão aparente e que não têm objetivo maior na vida do que combinar os sapatos com a blusa, e nem isso, Deus, conseguem fazer direito. É a velha máxima "quem me interessa, não me quer" (ou ao menos sabe que eu existo e das minhas intenções?). Se é mesmo que existo e não sou a projeção de uma quase-vida. Um sonho dentro do sonho, como no filme que vi um dia desses.

Estou com raiva dos meus pais e nem sequer me lembro a razão. Não os culpo por nada, deve ser difícil acordar e não ter mais nada que fazer a não ser pôr no modo ‘automático’. Eu sei como é isso, sei desde os 13 anos. Eu já sabia que seria desta maneira... De alguma forma, tive essa visão do futuro naquela época e desde então carrego um quase sorriso no rosto: mezzo conveniência, mezzo sarcasmo. A gente nunca vai ter mais do que isso, sabe? As espinhas que saíam, com mais frequência e fúria do que hoje, coloriram meu rosto, denunciando que havia algo em ebulição abaixo da superfície. Troubled water runs deep. Será que a chama se apagou ou o ponto de ebulição está alto demais? Há muito tempo aprendi que por ter o ponto de ebulição de 100° C, a água pode ser encontrada na forma líquida na Terra e que após uma intricada série de reações químicas muito complicadas para acontecerem de verdade, deu início a um processo que continua até hoje… -Voilá! Fez-se a Vida, nascida nas águas de um oceano primordial, atualmente recostada no meu sofá…

Mas tudo isso não interessará quando estiver grisalho e as lembranças forem uma névoa de insatisfação e comodismo, onde me perguntarei se não fui a bares e boates suficientes? Onde gastei o meu precioso tempo? Já não fiz besteiras suficientes esperando pela vida acontecer e assistindo a juventude passar? Pode soltar a risada de auditório e subir os créditos. Ninguém está rindo.