quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

Vivo

Você já sentiu a brisa fria por todo o corpo ao final da tarde? Aquela sensação mágica que passa por toda a sua pele, eriçando todos os seus de fios de cabelos e pelos ? Você já se perguntou por quantas pessoas aquela mesma brisa já passou, eriçando seus fios de cabelos e pelos? Já se perguntou quantos fazem parte desta cadeia invisível? Você já hesitou antes de mergulhar de cabeça numa onda fria do mar nos meses de junho a setembro? Já pulou duas marolas na esperança infantil de ganhar coragem ou de que a próxima onda venha com a água um pouco menos fria? Você já se arrependeu, ao mergulhar no mar, nos meses de junho a setembro, que não deveria ter hesitado tanto, pois água do mar nesta época do ano, banhando seu corpo inteiro está exatamente na temperatura ideal, nem quente, nem fria, apenas, ideal? Você já saiu do mar após o mergulho ideal e fechou os olhos pra perceber melhor o sol de um inverno-quase-primavera enquanto ouve o oceano te chamando nas suas costas? Você já pôs os pés na areia molhada e sentiu seu peso afundar as suas pegadas num formato único? Já pensou quantas pessoas pisaram a areia molhada, com seus pesos afundando suas pegadas e nenhuma delas era você? Já ouviu os grilhos cantarem algo ininteligível e profundo, no início da noite, enquanto o céu se colore de um vermelho acobreado para depois ganhar o breu máximo e total? Já se perguntou por que os grilos o fazem? Já olhou para o céu estrelado e se maravilhou com o brilho das estrelas ao norte? Você sabia que boa parte das estrelas não está mais ali brilhando para nós? Você já caiu no sono olhando para o céu e se perguntando inúmeras coisas sem sentido como se existe vida lá fora ou se amanhã irá chover? Você já ouviu algo tão bonito como uma canção americana que você pouco sabia a letra, mas de alguma forma aquilo te tocou e te comoveu? Você já sentiu esse arrepio coincidente com os picos de um grito agudo de alguma cantoria barata? Você já ouviu o som de um violino? Já conseguiu distingui-lo dos demais sons de uma orquestra? Você também achou que ele estava chorando, um choro guardado, repleto de mágoa, e vai ver por isso, era tão libertador? Você já sentiu um nó na garganta quando viu alguém deitado no chão da calçada? Já imaginou a vida daquela pessoa invisível? Já pensou que a brisa fria no final da tarde podia ter passado por ele? Já sentiu seu peito apertar quando uma criança está caindo? Já quis correr para socorrê-la, mesmo que ela não tenha tido nada? Já pensou que quando você foi criança você também caía? Já pensou quem iria lhe socorrer, mesmo que você não tenha tido nada? Você já se perguntou? Já teve tantas perguntas na cabeça que as sente como uma quase enxaqueca, nunca chegando a se concretizar? Já quis tirar o peso destas interrogações do fundo da sua cabeça? Já achou que estas perguntas estavam pesando-lhe o pescoço e torcendo a sua coluna? Já pensou que talvez esse seu movimento com o pescoço para os lados, que às vezes resulta num estalinho, não sirva para nada? Já pensou quantos já fizeram esta mesma pergunta? Já se perguntou quantos fazem parte desta cadeia invisível? 

Então, eu já, e é isso que me mantém vivo.

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