Aproveitando o tempo livre das férias eu peguei um dos meus
livros favoritos para reler, “As Virgens Suicidas”, de Jeffrey Eugenides,
publicado inicialmente em 1993, e recentemente relançado em uma nova tradução
pela Companhia das Letras. E novamente fui arrebatado por uma explosão pungente
de sentimentos e reflexões que somente uma obra de tamanho talento e
importância é capaz de despertar. Relatando a tragédia que se abate sobre a
família Lisbon e suas 5 filhas, em um subúrbio americano nos anos 70, Eugenides,
em seu romance de estréia, tece um sensível panorama do crescimento e das dores
da adolescência em uma primeira leitura. Mas como toda grande obra é rica de
múltiplos significados e leituras, aprofunda-se sobre as relações superficiais
do mundo atual, a aversão aos inadequados, os efeitos nocivos de uma educação
repressiva e controladora e a melancolia sobre um tempo que não volta, borrado
e modificado pela memória. É difícil não dar detalhes da estória, visto que até o título
entrega o desfecho final do livro, mas o importante da prosa de Eugenides é como
ele se aproveita de um relato quase confessional de um grupo de garotos,
vizinhos das meninas Lisbon, para dar vazão à sentimentos como a paixão, o
amor, a admiração, o temor e a confusão típicos da adolescência (e por que não
da vida adulta?). O texto é fluído e apesar do tema difícil e pesado, usa de um
lirismo quase fantasioso que empresta um ar de extraordinário e mágico aos
acontecimentos ordinários do passado, artifício comum quando imaginamos (ou
lembramos) de fatos ou pessoas que nos falam mais perto ao coração. E isso
acontece também ao leitor de “As Virgens Suicidas”, é uma tarefa árdua não se
emocionar ao ler suas páginas e desejar de alguma forma interferir naquela
tragédia anunciada, mudar o destino cruel daquelas garotas como os protagonistas-invisíveis
também desejaram. Traduzido em mais de 34 idiomas, “As Virgens Suicidas”
tornou-se um clássico da literatura americana atual e foi levado às telas de
cinema com o mesmo cuidado e delicadeza pelas mãos de Sofia Coppola, forma pela
qual eu conheci o livro, e igualmente recomendado àqueles que se encantarão
pelo livro. Descendente de gregos, Jeffrey Eugenides criou uma tragédia grega
contemporânea, onde Destino, Morte e Paixão, determinam a vida dos mortais, como
na Antiguidade, em uma história cheia de tristeza, suicídio e melancolia, mas
ainda assim repleta de beleza.
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