domingo, 15 de setembro de 2013

Janelle Monáe - The Electric Lady


É verdade que a história se repete em ciclos: alguma coisa é considerada de vanguarda, torna-se moda, a moda torna-se o padrão, o padrão torna-se obsoleto até que surja outra coisa considerada de vanguarda para dar continuidade ao ciclo. Muitas vezes o que é considerado de vanguarda na verdade já é algo conhecido, tornado obsoleto e esquecido que retorna com uma nova roupagem, uma nova cara. O mundo da música também funciona assim. Uma vez ou outra um artista novo rompe esse paradigma e acrescenta algo de realmente diferente, e consegue entrar para história. Aconteceu assim com Louis Armstrong, David Bowie, Tom Jobim, Michael Jackson, Madonna e a julgar pelo último lançamento de Janelle Monáe, The Electric Lady, é entre esse panteão que ela deseja figurar. 

“The Electric Lady” é a terceira e derradeira parte de um projeto ambicioso iniciado em 2007, quando foi lançado o seu primeiro EP “Metropolis: Suite I (The Chase)”. Através de sua música, Monáe desejava contar a história de Cindi Mayweather, uma androide de um futuro próximo que ao apaixonar-se por um humano, Anthony Greendown, e recusar-se a ser desmontada (destino dado aos androides transgressores) inicia uma revolução. No seu segundo álbum, “The ArchAndroid”, Cindi continua sua fuga e ganha ares de mártir e messias de uma nova ordem mundial. Na récem lançada “The Electric Lady”, Cindi Mayweather ganha consciência da sua força e do seu poder. Já não bastasse a singularidade da história que segundo a própria cantora pode ser transposta para a comunidade negra, ou a comunidade homossexual ou às mulheres, em suas respectivas lutas para a garantia de respeito e direitos civis e individuais, deve-se também levar em consideração a coragem de lançar álbuns conceituais em uma indústria cada vez mais sedenta por singles rentáveis. 

Janelle Monáe faz tudo isso produzindo música de excelente qualidade. Em seu último álbum, contando com a ajuda de grandes nomes da música atual (todos expoentes da black music, como Prince, Erykah Badu, Solange Knowles, Miguel e Esperanza Spalding), ela desfila com elegância todo o seu groove, flertando com o rock, o pop, o hip hop, o rap e até mesmo a ópera em seus overtures. É difícil decidir quais são faixas destacam-se mais devido à qualidade do álbum como um todo, mas são grandes candidatas à clássicos da black music contemporânea: a power-ballad “Primetime”, no qual divide os vocais com o astro do hip-hop Miguel, a uptempo “We Were Rock ‘n’ Roll”, a semi gospel “Victory”, o soul de “Dorothy Dandridge Eyes”, além dos singles já lançados “Q.U.E.E.N.” e “Dance Apocalyptic”.

Monáe encontrou em “The Electric Lady” a fórmula perfeita para equilibrar sua voz única e aveludada, com melodias cheias de swing e mensagem social. Sua sonoridade levemente retrô sessentista, ecoa o rhythm and blues, o soul e o funk dos discos da era de ouro da Motown, mas aponta mesmo é para o futuro da música contemporânea.

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