sexta-feira, 2 de agosto de 2013

O Despertar

Ontem despertei de um sono profundo. Na verdade, eu nem estava dormindo, eram 19:36 e eu estava na rua, em pé, olhando o trânsito e a confusão da cidade, mas eu despertei. Sonhos intranquilos. Eu havia corrido, eu estava sempre correndo, e aquela infinitude de carros parados, uns atrás dos outros, enfileirados à espera de uma resolução para o engarrafamento (ou seriam dos seus problemas?), me fez pensar um pouco. E neste pensar, eu despertei. Caía uma garoa fina, que não ia durar muito, apenas o suficiente para atrapalhar os planos de quem queria chegar mais cedo em casa - a Natureza tem dessas coisas- e os pequenos pedaços de grama remanescentes entre o cimento, o calçamento e o asfaltos, soltavam o cheiro doce de terra quando é molhada, logo abafado pela fumaça dos carburadores de uma infinitude de carros enfileirados. Havia barulho: conversas alheias sobre amenidades, brigas de casais, buzinas e risadas e esperneios daqueles que esperavam dentro e fora dos automóveis pela resolução do tráfego, logo sendo silenciados pelas gotas de chuva que começavam à engrossar – a Natureza tem dessas coisas. Eu estava ali, em pé, alheio à tudo aquilo, sentindo a chuva e, estranhamente confortável naquela posição. Talvez tenha sido a luz vermelha, agora embaçada pela chuva, dos faróis traseiros dos carros constantemente com o pedal do freio pressionado, talvez tenha sido a música que ouvia no momento, a batida forte e eletrônica de Moon Theory, talvez tenha sido a sensação de frescor dos pingos da chuva, batendo no meu rosto, após uma corrida (ou talvez, uma vida toda corrida?), ou talvez tudo isso junto me fez despertar de um sono profundo. Senti como há muito não sentia que estar vivo é uma dádiva, percebi que todo sofrimento não dura e é, muitas vezes, sem razão, que, ainda que não desejemos, ainda vivemos em coletividade e ação do outro – ou a sua ação – ainda reflete na vida dos demais, e que quando a chuva cai, ela cai para todos. Pode parecer um imenso amontoado de lugar-comum, cliché, ideias vagas, mas foi a percepção disto que me fez despertar. Foi um adormecer anestesiado, um sub-limiar de percepção, daquele que não revigora e que a gente se questiona a todo momento se é real ou não. Sonhos intranquilos, é verdade.

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